sábado, 23 de outubro de 2010

Revival ou mulher masculinizada?


As principais semanas de moda de Nova York, Londres, Paris e Milão terminaram.

Mais de 100 desfiles recheados de conceitos e propostas para a próxima estação.

O que mais me chamou a atenção foi a presença de inúmeras peças ou mesmo looks do guarda roupa masculino, incluindo a alfaiataria como coletes, suspensórios e ombreiras exageradas, “empurradas goela abaixo” para as divinas divas. Isso me lembrou os anos 1940, 1980, ...

Tentando entender o porquê dessa volta da masculinização da mulher, uma vez que nada é por acaso e algum fato ou comportamento sempre esteve atrelado a essa tendência, fui pesquisar nos 100 anos de moda todas as vezes que esse estilo foi apresentado pelos criadores e aceito, de fato, por elas.

A alfaiataria e as calças foram fundamentais para a liberação das mulheres.

A moda sempre desafiou o corpo humano seja transformando-o, às vezes aprisionando-o e em outras deixando-o livre. Tudo isso de acordo com o tempo e os costumes. Por exemplo, em 1850, Amelia Bloomer, uma americana que lutou pelos direitos das mulheres, popularizou o uso de calças bombachas sob as saias conhecido por bloomer suit.

Na Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), para que a mulher desempenhasse melhor as novas atividades até então do mundo masculino, foi adotado o macacão e a saia calça. Nos anos 1930 com o tango e o fox trot como ritmos alucinantes e no auge do estilo Déco, as peças tinham o corte quadrado, simétrico e a cintura baixa, de acordo com a estética proposta pelo movimento artístico. Período notável para a moda com a presença marcante de Gabrielle Bonheur Chanel ou Coco Chanel que deixou um legado de praticidade com elegância para as mulheres à frente dos costumes da época. E atuais até hoje. Com a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) e certa interferência do fascismo, a moda confirma na roupa feminina o requinte da alfaiataria ainda com a intenção de tornar mais práticas as atividades do dia a dia do sexo frágil que passou a desempenhar tarefas como trabalhar fora, cuidar e manter a família, muitas delas sem a presença do pai ou marido que estavam no front. Talvez o rigor e até certa rudeza incorporada nas formas fez com que, em 1947, o costureiro francês Christian Dior devolvesse a feminilidade às mulheres através de novas linhas, entre elas o New Look representado por saias cortadas em godê completo no formato da corola das flores, cintura marcada e como complemento sapatos altíssimos apoiados em salto agulha.

A moda trouxe para os poderosos anos 1980 novas linhas e volumes, agora não só apoiados na alfaiataria, nas matérias e nas exageradas ombreiras travestindo-as em poderosas femmes d´affaires como também fez “desabrochar” uma falsa atitude de poder, agressividade e disputa nos negócios até então ocupado exclusivamente pelos homens. Nesse período aparece Giorgio Armani, um dos maiores mestres da modelagem e novas estruturas. O estilista italiano por seu estilo clean, correto e cores monocromáticas marcou uma nova figura feminina onde austeridade e inflexão eram notadamente marcadas por elegância, certa fragilidade e sexappeal.

Mulher "homenzinho" não pega mais

E então, em que se basearam os criadores? Qual movimento político, artístico ou comportamental eles foram buscar essa idéia de masculinizar as mulheres? Será que a crise de 2008 chegou atrasada no processo criativo das “fadas madrinhas” da criação? E as mulheres, agora liberadas de corpo, alma e carregando pelo corpo próteses disponibilizadas em todos os tamanhos, formatos e preços, ainda querem se vestir para parecerem “homenzinhos poderosos”? Elas querem isso? Ainda precisam se travestir para galgar mais espaços no cenário dos negócios? E se isso ainda for uma vontade mal resolvida, já imaginou como será engraçado ver uma “mulher pêra”, “mulher melancia”, “mulher melão”, entre outras frutas e legumes, vestidas com terninhos, coletes, gravata como acessório e punhos com abotoaduras?

Não sei, mas caso venha a “pegar” será sem dúvida nenhuma a visão burlesca de uma zarzuela, um gran finale de circo esdrúxulo e até mesmo uma cena dantesca. Enfim, la mode c´est la mode.

O que era chique, hoje é brega e o que era cafona hoje é moda.

E assim La Nave Vá.

Gostaria de saber a sua opnião, fale comigo através do e-mail carlos.simoes@textilia.net, contando um pouco sobre a sua experiência.
Por: Carlos Simões
Editor de Moda e Mercado

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